TEMPOS MEDONHOS
Um poema de j. verismar
Ele é do tempo
Em que macho, macho mesmo, batia na mulher
E a elas só restava recorrer a Deus e à própria fé
Porque ninguém socorria, ninguém metia a colher
De um tempo
De mulheres sem direitos, nem sobre o próprio nariz
Em que o marido, ditador inato, era a lei e o juiz
Bem antes, muito antes de nascer Leila Diniz
Ele é do tempo
Em que a justiça, excelências, data vênia
Antes da voz machucada de Dona Maria da Penha
Ignorava, criminosamente, qualquer criatura fêmea
Ele é do tempo
Em que fidelidade era obrigatória, só para elas
Legítima defesa da honra não valia para a honra delas
Tempos de escravas de fogões e de panelas
Ele é do tempo
Em que elas não ousavam sequer um batom vermelho
Quase nada tinham para fazer diante do espelho
E vestidos — calças, nunca —, só abaixo do joelho
Ele é do tempo
Em que mulher casava-se sob encomenda
Em que os pais colocavam as filhas à venda
Ofertando ao comprador a virgindade como prenda
Ele é do tempo
Em que mulher aos trinta era chamada de vó
Paria um filho todo ano e os criava quase só
E deixava para as filhas um mundo igual ou pior
Ele é do tempo
Que resiste em algumas almas, por vezes disfarçada
Uma indecência medonha, sem pudor, desentranhada
Que deveria, desde há muito, estar morta e enterrada
⚖️Post Scriptum:
A ideia inicial era um poema chamado TEMPOS FELIZES. Vendo, porém, os avanços e as estatísticas sobre a situação da mulher… só me restou a opção de TEMPOS MEDONHOS. O que fazer? Denunciar, colaborar e esperar pelas mudanças.
TEMPOS MEDONHOS — Registro e proteção da obra
Obra arquivada em PDF e assinada com certificado ICP-Brasil (A1) do autor.
Hash SHA-256 (PDF assinado):
661cc3ba0a3387375ddeb408952bbd24295a1f544955a3d2ff2009640afbcc12
Assinatura Certa — ID do processo: MJD2PH ·
www.assinaturacerta.com.br

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